Deixa a roupa a arejar
lava-a com menos frequência
Indústria da moda
A segunda indústria mais poluente do mundo
A indústria da moda é considerada uma das mais poluentes, desde a produção, fabrico, transporte e uso, chegando por fim ao seu descarte, também este bastante impactante.
O impacto ambiental sente-se sobretudo ao nível do consumo de água, da erosão dos solos, das emissões de CO2 e dos resíduos e desperdícios resultantes. [1]
No entanto, existe também um forte impacto social.
Ao cuidarmos das nossas roupas, lavando-as com menos frequência e a temperaturas mais baixas, conseguimos prolongar a sua utilização, danificando menos os tecidos.
Também a escolha consciente na hora de adquirir novas peças de vestuário é essencial para obter roupas mais duradouras e produzidas de forma menos impactante.
Impacto ambiental e social
Resíduos
Segundo o Diário de Notícias, os portugueses deitam para o lixo mais de 200 mil toneladas de roupa por ano.
Os resíduos têxteis representam cerca de 4% do total de resíduos produzidos em Portugal. [2]
Muitos destes “resíduos” poderiam ter sido evitados, sendo reutilizados, vendidos em segunda mão ou doados, pois encontram-se ainda em bom estado.
No entanto, à velocidade que a moda chega aos consumidores (fast fashion), devido aos seus preços baixos e ao poder do marketing que nos faz sentir “fora de moda”, acabamos por usar a roupa como se esta fosse mais um produto descartável.
A Agência Europeia do Ambiente estima que entre 1996 e 2012, a quantidade de roupas compradas por pessoa na UE aumentou 40%.
A aquisição de roupa na UE tem impactos noutras regiões do mundo: 85% do uso primário de matérias-primas, 93% do uso do solo e 76% das emissões de gases com efeito de estufa envolvidas na produção têxtil ocorrem fora da UE.
Os principais exportadores de roupa para a UE são a China, o Bangladesh, a Turquia, a Índia, o Camboja e o Vietname. [1]
Matérias-primas
As matérias-primas utilizadas no fabrico de roupa têm um grave impacto ambiental, não só pelo seu uso massivo (e consequente exploração massiva dos solos, que leva à sua degradação), mas também pelo enorme consumo de recursos associado à sua produção e ao próprio fabrico das roupas.
Sabias que…
Para produzir uma t-shirt de algodão são precisos 2700 litros de água, e para produzir uma calças de ganga são precisos 10 mil litros? [2]
A produção têxtil requer um elevado consumo de água e aumenta o stress hídrico, especialmente em países produtores de vestuário.
Por ano são usadas 200 mil toneladas de pesticidas e 8 milhões de toneladas de fertilizantes, apenas para a produção de algodão.
Estes contaminam solos, rios, lagos e aquíferos subterrâneos.
Isto significa que mesmo as roupas produzidas com fibras naturais requerem um grande consumo de recursos (que varia consoante o tipo de fibra) e são também grandes fontes de poluição, não faz sentido utilizá-las apenas 2 ou 3 vezes e depois deitá-las fora!
Tingimento e tratamento têxtil
Um quinto da poluição industrial da água tem origem na fase de tingimento e tratamento têxtil.
As sobras do processo de tingimento são frequentemente despejadas em lagos, ribeiros ou rios, sem qualquer tratamento prévio.
As tintas utilizadas pela indústria têxtil no fabrico de muitas peças de roupa contêm compostos orgânicos voláteis associados e não têm qualquer tipo de certificação.
Emissões de CO2
A emissão de gases com efeito estufa ocorre nas várias fases do ciclo de vida de uma peça de roupa, inclusive no seu uso (lavagem, secagem e engomagem).
A indústria da moda é responsável por 10% de todas as emissões de CO2 no mundo. Se nada mudar, até 2050 poderá atingir os 26%.
Sabias que…
Uma T-shirt de poliéster é responsável por cerca de duas vezes mais emissões de CO2 que uma t-shirt de algodão?
A maioria das peças de roupa são produzidas em países que dependem de fábricas movidas a carvão, aumentando a sua pegada carbónica.
Descarte
Em 2030 estima-se que o nível total de resíduos de vestuário possa chegar aos 148 milhões de toneladas – equivalente ao desperdício anual de 17,5kg por pessoa em todo o planeta.
Apenas 20% das roupas são recolhidas para reutilização ou reciclagem. Menos de 1% de todos os materiais utilizados no fabrico da roupa são reciclados para fazer novas peças de roupa. [1]
Sabias que…
A cada segundo, no mundo, um camião de lixo de roupas é queimado ou enviado para aterros?
Felizmente, segundo a Associação Portuguesa do Ambiente, a recolha seletiva de resíduos têxteis vai ser obrigatória a partir de 1 de janeiro de 2025.
Irão ser implementados sistema de recolha seletiva de resíduos têxteis nos sistemas de gestão de resíduos urbanos. Desta forma, sempre que forem recolhidos, os têxteis serão encaminhados e preparados para reutilização e reciclagem.
Injustiça social
Para obter preços mais competitivos e maiores lucros, a indústria têxtil recorre a mão-de-obra extremamente barata e localizada em países com leis laborais pouco exigentes.
Nos últimos anos foram encontradas evidências de trabalho forçado, trabalho infantil, violência e insegurança no trabalho.
Os trabalhadores não recebem salários justos pelo seu trabalho e há ainda grandes disparidades nos salários de homens e de mulheres. Na Índia, as mulheres recebem menos 39% que os homens, para o mesmo trabalho.
Microplásticos
A partir do ano 2000, o poliéster tornou-se o material favorito da fast fashion.
Actualmente, estas fibras representam 60% do total das fibras utilizadas pela indústria têxtil.
Para além deste, outras fibras sintéticas como o polietileno, acrílico ou elastano são amplamente utilizadas no fabrico de vestuário.
Isto significa que estamos a vestir-nos de plástico, contribuindo para a exploração petrolífera e para a contaminação dos oceanos com microplásticos.
A principal fonte de microplásticos nos oceanos é a libertação de fibras durante a lavagem de tecidos sintéticos.
As pequenas fibras entram no esgoto e acabam por chegar até ao oceano.
Benefícios de lavar menos a roupa
Lavar a roupa com menos frequência tem diversos benefícios!
Manutenção da cor
As roupas mantêm a sua cor mais intensa e mais vibrante durante mais tempo.
Maior durabilidade da roupa
As roupas não vão sofrer tanto desgaste e por isso vão durar mais tempo, permitindo um maior número de utilizações.
Menor consumo energético
Menos lavagens (e menos secagens, caso uses máquina de secar) geram um menor consumo de energia.
Também o facto de necessitares de comprar roupa com menor frequência contribui para dimunuir o consumo de energia associado ao seu fabrico.
Menor consumo de água
Tal como acontece com o consumo energético, haverá menos água gasta com as lavagens, mas também menos água gasta no fabrico.
Menos desperdício
Uma vez que as roupas vão durar mais tempo, serão produzidos menos resíduos.
Poupança
Vais poupar nas facturas de água e de electricidade e vais comprar menos roupa, poupando ainda mais!
Lavar a roupa com menos frequência
Como reduzir o número de lavagens?
Começa por analisar a tua rotina de lavagem da roupa:
Analisa a quantidade
Quantas máquinas de roupa fazes por semana.
Analisa a frequência
Da lavagem dos diversos têxteis que tens em casa (vestuário, roupa de cama, toalhas de banho, panos de cozinha, fraldas reutilizáveis, etc.).
Será que estás a lavar roupa que podia apenas ser arejada?
Precisas mesmo de trocar a roupa de cama todas as semanas ou poderás deixar a cama aberta a arejar?
A toalha de mesa com uma nódoa terá de ir para a máquina ou a nódoa pode ser eliminada à mão?
Através desta análise vais certamente aperceber-te que é possível reduzir uma ou mais máquinas de roupa por semana!
8 Dicas para cuidar da roupa de forma sustentável
Cuida a tua roupa com menos impacto ambiental.
Areja a roupa
Podes deixá-la pendurada num cabide durante a noite, fora do armário, ou até na varanda, em vez de ir logo para a máquina.
Esfrega nódoas à mão
Elimina apenas a nódoa limpando de forma localizada.
Lava a roupa a temperaturas mais baixas
A lavagem a baixas temperaturas consome menos energia e desgasta menos os tecidos.
Utiliza detergentes suaves e biodegradáveis
De preferência a granel ou com uma embalagem de menor impacto ambiental. As nozes de saponária ou o detergente em tiras são também óptimas opções.
Usa um saco colector de microplástico
Na lavagem de roupas com fibras sintéticas, usa um saco colector de microplástico.
Seca a roupa ao ar livre
Evita usar a máquina de secar, poupando energia e prolongando o tempo de vida dos tecidos.
Usa molas de madeira ou de inox
Para estender a roupa, em vez das de plástico que se vão tornando quebradiças com o uso, acabando por libertar microplásticos.
Não necessitas de engomar tudo
Experimenta a pendurar a roupa em cabides no estendal e vais ver como a roupa fica com muito menos vincos, ou nenhuns!
Repara as peças que se danificam com o uso
Se não souberes costurar ou se não tiveres tempo, recorre a uma costureira ou até a um sapateiro.
Compra de forma consciente
Para além de cuidarmos da roupa que já temos de forma a prolongar o seu uso, é essencial comprar de forma consciente e racional, tendo em atenção se aquilo que estamos a comprar vai impactar negativamente o nosso planeta.
Evita as compras por impulso, planeando antes de comprar. Analisa a roupa que tens e o que é que realmente te faz falta.
Sempre que possível compra roupa em segunda mão.
Evita comprar roupa específica que irás utilizar apenas uma vez (por exemplo, roupa para um determinado evento ou cerimónia), ou durante um curto período de tempo (como acontece com a roupa de grávida). Nestes casos, podes optar por alugar roupa.
Caso necessites mesmo de comprar novas peças de roupa:
Opta por fibras naturais e biológicas
Que requeiram um baixo consumo de água na sua produção e que sejam produzidas de forma realmente ética, sustentável e com propósito.
Selecciona peças de roupa versáteis
Que possam ser conjugadas entre si em inúmeras combinações.
Aposta em peças intemporais
Que dificilmente saiam de moda, em vez de apostares nas tendências.
Aposta na qualidade e não na quantidade.
Neste artigo encontras um guia para a compra consciente de peças de roupa novas.
Procura o máximo de informação sobre as peças que ponderas adquirir. Se necessário, entra em contacto com as marcas para obter mais informação.
Estas são algumas das coisas que poderás querer saber:
Como foi produzida aquela peça?
Quem a produziu e onde?
De que materiais é feita?
Tem qualidade e está bem produzida?
O que lhe posso fazer no final da vida?
O que está por trás de cada peça de roupa?
Por trás de cada peça de roupa, por mais insignificante que esta nos pareça, estão recursos naturais que foram extraídos e consumidos para que esta chegue até nós.
Estão emissões de CO2 que foram geradas no seu fabrico e transporte.
E estão pessoas, muitas vezes exploradas e com pouca qualidade de vida.
As modas são efémeras em prol do lucro dos fabricantes, mas o nosso planeta não pode continuar a ser explorado e os seus recursos extraídos como se fossem infinitos.
Ao escolheres um determinado produto, estás a apoiar a sua produção e a dizer aos fabricantes que apoias a forma como o fabricam. Por isso, escolhe produtos de qualidade, duráveis e produzidos em condições justas. Escolhe peças com que realmente te identifiques e que te favoreçam, para que depois não fiquem “esquecidas” no armário.
Cuida das peças que tens e lava-as com menos frequência fazendo-as durar ao máximo.
O planeta agradece ♥
Costumas arejar a tua roupa? Tens mais sugestões para cuidar da roupa e aumentar a sua durabilidade?
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Referências
[2] https://m80.iol.pt/noticias/88889/portugueses-deitam-mais-de-200-mil-toneladas-de-roupa-ao-lixo