Plásticos descartáveis
Os single use plastic ou plásticos de uso único, também denominados como descartáveis, vieram revolucionar o final do século XX.
O plástico parecia ser o material perfeito: leve, maleável, isolador e barato.
Fastforward até aos dias de hoje, e o que parecia ser ideal, revelou-se como uma pandemia de proporções assustadoras.
A palhinha com que bebemos o sumo, o saco onde levamos as compras e o invólucro do chocolate que acabámos de meter na boca, não soam a grandes problemas quando postos nesta perspectiva individualista.
Estamos tão habituados a estas conveniências da idade moderna que a larga maioria das pessoas não regista estes produtos como problemáticos.
No entanto, os plásticos de uso único estão associados a um preço ambiental astronómico, preço este que iremos ter de pagar durantes milhares de anos.
Vamos então começar pelo princípio e desbravar caminho por este tema tão relevante, não só no Plastic Free July, mas em todos os outros meses, dias, horas, minutos e segundos do ano.
O que são plásticos descartáveis?
Os plásticos descartáveis ou plásticos de uso único, são materiais produzidos maioritariamente a partir de químicos derivados de combustíveis fósseis (petroquímicos) e usados apenas uma vez antes de serem deitados fora ou reciclados.
Temos como exemplo os sacos de plástico, as pastilhas, as cápsulas de café, as garrafas de água e de refrigerantes e a grande maioria do acondicionamento dos alimentos. [1][2]
O uso do plástico na história
Apesar do plástico (material constituído por uma cadeia de polímeros sintéticos) ter sido inventado em meados do século XIX, só ganhou popularidade na década de 70 do século passado.
Os fabricantes começaram a substituir as então tradicionais embalagens de papel ou vidro por alternativas de plástico – mais leves, duradouras e baratas.
Desde os anos 50, foram produzidas 8.3 biliões de toneladas métricas de plástico, sendo que metade deste número corresponde apenas aos últimos 15 anos. [2]
Este valor permite-nos começar a ter uma percepção da dimensão do problema.
Qual é o problema dos plásticos descartáveis?
Os plásticos de uso único reflectem tudo o que está de errado com a cultura dos descartáveis – o facilitismo do mastiga e deita fora.
Nós produzimos cerca de 300 milhões de toneladas de plástico em todo o mundo, todos os anos.
Metade deste valor corresponde aos plásticos de uso único.
Para termos um termo de comparação, este número é quase equivalente ao peso de toda a população humana.
Desta forma, é fácil perceber que devido ao uso massivo de plásticos de uso único e de outros descartáveis, estamos a gerar enormes quantidades de lixo e um elevado consumo de recursos que facilmente poderia ser evitado.
Plástico reciclável
Reciclar todo o plástico passível de ser reciclado de forma a dar-lhe outra vida, é uma das melhores soluções para esta problemática.
Quanto maior a percentagem de plástico que se consiga reciclar, na maior parte dos casos, mais se reduz a sua pegada.
Um exemplo disto, é o politereftalato de etileno, material que compõe a maior parte das garrafas de água e um dos plásticos mais comumente reciclados, que pode ser transformado em várias coisas, tais como tecido poliéster ou partes de automóveis.

No entanto, melhor do que lidar com o problema, é evitar o problema!
Se reduzirmos drasticamente o consumo de produtos descartáveis, evitamos ter de lidar com o lixo gerado por estes, uma vez que a própria reciclagem dos materiais também envolve um elevado consumo de recursos.
Plástico não reciclável
91% do plástico produzido não é reciclado de todo. Acaba em aterros ou no oceano.
Os plásticos de uso único, em particular as palhinhas, cotonetes e sacos, são difíceis de reciclar pois acabam por passar através dos sistemas de triagem dos centros de reciclagem, devido às suas reduzidas dimensões.
Ora sem a opção de reciclagem em cima da mesa, resta apenas eliminar estes produtos. O problema é que os plásticos de uso único não se decompõem em todo o sentido da palavra, como os alimentos, por exemplo. Com o tempo, sol e calor, este material apenas se desagrega em pedaços cada vez mais pequenos, até eventualmente se tornarem naquilo que chamamos microplásticos.
Microplásticos
Os microplásticos são fragmentos microscópicos de plástico, difíceis de detectar e que estão praticamente em todo o lado.
No final, acabam por contaminar as águas, por serem ingeridos pelos animais e, consequentemente, por nós também.
Nos animais, a ingestão e acumulação destes microplásticos está associada a diversos problemas de saúde, nomeadamente:
Perfuração de órgãos
Bloqueios intestinais fatais
Nos humanos, os problemas por eles gerados não são inferiores:
Muitos químicos usados no plástico são desreguladores endócrinos, podendo causar desequilíbrios hormonais, problemas a nível do sistema reprodutor e cancro.
O impacto ambiental dos plásticos descartáveis
Para além de serem produzidos a partir de matérias-primas não renováveis, os plásticos descartáveis acabam, na sua grande maioria, por contaminar a água do nosso planeta.
A maior parte desta poluição deriva de países sem infraestruturas adequadas ao controlo do lixo, como alguns países da Ásia.
A Índia, por exemplo, produz cerca de 25 940 toneladas de lixo plástico por dia, mas apenas recolhe adequadamente 60% deste.
No entanto, é importante termos em conta que muito do plástico produzido nestes países asiáticos vem satisfazer as necessidades de outras regiões do mundo, nomeadamente a Europa, e que muitos países, como o Estados Unidos da América (mas não só), enviam lixo plástico de volta para a Ásia para ser reciclado.
Adicionalmente, a produção de plástico contribui para o aumento da emissão de gases com efeito de estufa e, consequentemente, para o aquecimento global.

O impacto nos oceanos e na vida marinha
Os animais marinhos carregam o fardo deste crescente lixo no seu habitat. Os cientistas estimam que haverá mais plástico nos oceanos do que peixes (em peso) já em 2050.
Este plástico não está só a afectar e a matar milhares de animais marinhos e pássaros todos os anos, está também a contaminar a cadeia alimentar de qual os humanos dependem há milhares de anos.
O impacto nas comunidades mais desfavorecidas
Como já referimos anteriormente, a poluição de plástico tem um impacto primário nas comunidades mais desfavorecidas.
Aquele plástico que não acaba logo no oceano é exportado dos países mais desenvolvidos para os países em desenvolvimento. As quantidades exportadas são tão ridiculamente elevadas que muitas vezes estas comunidades acabam por ser inundadas em resíduos de plástico.
Para além deste lixo destruir a terra em si, ao ser incinerado, os vapores tóxicos libertados tornam-se um perigo para os residentes locais, podendo causar doenças graves como cancro.
Descartáveis em materiais alternativos ao plástico
Apesar de o plástico ser considerado o “inimigo nº1”, substituir um descartável por outro descartável não será a solução.
Há materiais com um menor impacto ambiental, mas não deixam de ser produzidos a partir de recursos finitos que têm toda uma cadeia de produção por trás e que são extraídos, basicamente, para serem eliminados após uma única utilização, contribuindo para mais emissões.
Heis alguns exemplos de materiais alternativos ao plástico e do seu impacto:
Papel
Apesar de a produção de papel não utilizar matérias-primas fósseis, contribui para a desflorestação e consequentemente, para potenciar os efeitos das alterações climáticas;
A sua produção requer um elevado consumo de água;
A maioria do papel/cartão que poderá ser utilizado para substituir o plástico descartável, não poderá ser reciclado, como é o caso da grande maioria dos recipientes utilizados para acondicionar alimentos.
Vidro
A produção do vidro requer um maior gasto energético que a produção do plástico, e a sua reciclagem também.
Gasta mais água na sua produção;
Devido ao seu peso superior, o seu transporte gera também mais emissões de Gases com Efeito de Estufa.
Alumínio
O alumínio é um recurso natural abundante, no entanto, a sua exploração e produção pode provocar a erosão do solo e a contaminação de cursos de água e águas subterrâneas;
Elevado gasto energético na sua produção e emissão de CO2 e PFCs;
Apesar de o alumínio ser 100% reciclável, a grande maioria das embalagens de alumínio descartáveis são produzidas a partir de matéria-prima virgem.
Bioplástico
Apesar de normalmente ser produzido a partir de fontes renováveis, a sua produção pode concorrer com o espaço para a produção de alimentos;
Existem diversos tipos de bioplásticos e a sua maioria não são recicláveis;
Bioplástico não é necessáriamente biodegradável ou compostável – a maioria dos bioplásticos biodegradáveis e compostáveis, só o são em condições ideais (industrialmente).
O poder está nas nossas mãos
As nossas escolhas individuais afectam o colectivo. E a verdade é que todos os dias somos confrontados com estas escolhas, seja no supermercado, no restaurante ou em momentos de lazer.
Temos de começar a aceitar que nós, eu e tu, fazemos a diferença. A mudança começa connosco.
Nós, como consumidores, temos o poder de forçar as empresas a tomar decisões mais conscientes ao nos recusarmos a usar produtos que não têm o nosso bem-estar e o do planeta em conta.
Todos os dias são lançadas centenas de novos produtos que compramos sem sequer parar para pensar.
O consumo desenfreado é um dos grandes problemas deste século e está tão enraizado na nossa sociedade que damos por nós a comprar imensas coisas que achamos que nos vão ser úteis e que depois acabam enfiadas algures num armário ou num canto a apanhar pó (e a ocupar espaço).
Todas estas coisas que compramos têm um elevado custo ambiental e até social. Desde as matérias-primas utilizadas, à forma como o produto é fabricado, às condições de trabalho em que se encontram as pessoas que o fabricam, ao transporte do produto até ao local onde o adquirimos e claro, até a própria embalagem do produto que normalmente é descartável.
Para que realmente ocorra uma mudança de paradigma e para assegurar o nosso futuro, temos de repensar os nossos hábitos de consumo e consumir de uma forma mais racional e consciente.
Temos de consumir menos, recusando o que não nos interessa e reduzindo as nossas compras ao que é realmente essencial.
Temos de fazer um esforço por utilizar aquilo que já temos até ao seu fim de vida, ao invés de substituir apenas porque foi lançada uma nova versão mais bonita/mais moderna/mais rápida/mais prática…
Temos de tentar reparar aquilo que já temos em vez de deitar fora.
Reutilizar até não dar mais e só aí, descartar. Mas descartar de forma correcta, procurando um local adequado de acordo com o tipo de produto, para que este não acabe a sua vida num aterro.
Desta forma, é possível reduzirmos a nossa pegada ecológica adoptando um estilo de vida realmente mais sustentável.

Que pequenas acções podemos tomar no nosso dia-a-dia para fazer a diferença?
Aqui ficam algumas ideias de pequenas acções que cada um de nós pode pôr em prática no dia-a-dia para reduzir o consumo de descartáveis e a sua pegada ambiental:
Sacos
Andar sempre com um saco de pano (ou mais do que um). Assim, se precisarmos de comprar algo, não vamos necessitar de usar um saco descartável.
Alimentação
Cozinhar em casa. Em caso de take-away, levar os nossos próprios recipientes. Assim evitamos o uso de recipientes de plástico ou de outro material descartável.
Compras
Planear antes de comprar para evitar o desperdício. Comprar a granel com os nossos próprios frascos e sacos.
Pelicula aderente
Evitar o uso de pelicula aderente para embrulhar restos de comida.
Dar preferência a alternativas reutilizáveis como os panos encerados com ceras vegetais ou as coberturas reutilizáveis em silicone.
Palhinhas
Usar a nossa própria palhinha de metal ou bambú, reutilizável. Recusar palhinhas descartáveis de qualquer material.
Empresas
Informa as empresas que fabricam produtos que gostas de que te preocupas com o desperdício gerado pelos seus recipientes e pede para que arranjem alternativas sustentáveis. [2]
Sabias que…
Este mês de Julho representa um marco importante pois entram em vigor várias normas novas, umas determinadas pelo Decreto-Lei nº102-D/2020 e outras resultantes da transposição da Directiva sobre Plásticos de Uso Único (DPUU).
Estas podem contribuir para Portugal dar passos relevantes a nível da prevenção da produção de resíduos, garantindo novos direitos para os consumidores:
No restaurante, café ou bar
O consumidor passa a ter acesso gratuito a água da rede pública e servida em copos reutilizáveis. Os pratos, talheres, palhas, agitadores de bebidas, os recipientes para alimentos e para bebidas e copos feitos de poliestireno expandido são proibidos, exceto na restauração não sedentária e nos transportes até setembro de 2021.
No mini/super/hipermercado
Nas áreas de venda de produtos a granel (frutas, legumes, pão, charcutaria, talho, peixaria, etc.), o consumidor passa a poder usar as suas próprias embalagens e recipientes, desde que adequadas para armazenamento e transporte do produto. Infelizmente, o retalho continua a poder disponibilizar pratos, talheres, palhas, agitadores de bebidas, os recipientes para alimentos e para bebidas e copos feitos de poliestireno expandido até setembro de 2022.
Nas áreas para venda de embalagens reutilizáveis e produtos a granel, as grandes superfícies comerciais que disponibilizem bebidas em embalagens não reutilizáveis devem também disponibilizá-las em embalagens reutilizáveis sempre que exista essa oferta no mercado, no mesmo formato/capacidade.
Take-away
O consumidor passa a poder levar os seus próprios recipientes.
Em qualquer estabelecimento comercial
Passa a ser proibida a disponibilização gratuita de sacos de caixa, isto é, sacos com ou sem pega, incluindo bolsas e cartuchos, feitos de qualquer material.
Os cotonetes em plástico e as varas para balões deixam de poder ser vendidos.
É proibida a utilização de produtos feitos de plástico oxodegradável.
No entanto, na prática, pouco muda
Apesar de existirem algumas boas notícias, estas medidas ficam ainda aquém do necessário:
Os objetivos de redução previstos para os copos para bebidas e os recipientes para alimentos (por exemplo no pronto a comer) são pouco ambiciosos – proposta de 30% de redução até final de 2026 e de 50% até final de 2030, por relação ao consumo em 2022.
Os objetivos de redução aplicam-se apenas a produtos feitos de plástico, traduzindo-se num ganho ambiental nulo, já que nada faz para travar a substituição de materiais (isto é, o que era de plástico pode passar a ser produzido noutro material igualmente descartável), quando devia promover a redução da produção de resíduos e do impacte ambiental do modelo do descartável, independentemente do tipo de material.
As derrogações propostas para as proibições de utilização de determinados produtos (pratos, talheres, palhas, agitadores, recipientes para alimentos em poliestireno expandido, etc.) são contrárias à Diretiva, e não têm justificação, visto que há dois anos que todos os operadores têm conhecimento que a proibição irá entrar em vigor.
A obrigatoriedade de utilização de loiça reutilizável em todos os estabelecimentos de restauração ou de bebidas, nos casos de venda para consumo no local, está prevista, incompreensivelmente, apenas para janeiro de 2024.[3]
Desafio Plastic Free July
Participa neste desafio no website oficial deste movimento
Juntos podemos fazer a diferença e fazer parte da solução.
Referências
[2] https://www.nrdc.org/stories/single-use-plastics-101
[3] https://zero.ong/o-que-vai-mudar-para-os-portugueses-na-area-da-prevencao-de-residuos-a-partir-de-julho/














































































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